OCINÓRI - A Tasquinha do Irónico

segunda-feira, outubro 08, 2012

ENSAIO SOBRE A MERDA

Recebi isto por email.
O nome é da minha responsabilidade, mas sinceramente foi o que me ocorreu.
Desafio as mentes corajosas que frequentam este local, se ainda alguém o faz, à aventura de ler tudo. Lê-se de uma assentada.


O inteligente Borges inventou um estratagema para pôr os
trabalhadores, já na penúria, a financiarem as empresas através do
aumento dos descontos para a segurança social e a redução da TSU. A
ideia "extramente inteligente", não fosse ela do muitíssimo
inteligente Borges, nunca tinha sido experimentada em lugar algum. Os
empresários, como todo o resto do País, foram contra. Não por uma
questão de solidariedade, mas porque acham que trabalhadores falidos
são consumidores falidos. Pensam que não há exportações que nos salvem
da destruição do mercado interno. Os ignorantes tiraram assim ao
espantosamente inteligente Borges o Nobel que lhe estava reservado.

O tremendamente inteligente Borges é demasiado grande para este País.
Tem de lidar com gente ignorante que não passaria no primeiro ano do
seu curso, disse ao lado do genial ministro que fez de uma assentada
um curso inteiro. Porque voltou o barbaramente inteligente Borges para
a piolheira? Porque também o mundo é demasiado pequeno para ele. O FMI
despediu-o por ser inteligentemente incompetente. Ninguém sabe o que
fez, durante dois anos, como vice-presidente da Goldman Sachs (um
entre centenas), o grupo financeiro que ajudou o governo grego a
enganar a Europa e que mais responsabilidades tem na crise financeira
internacional. Terão sido, com toda a certeza, coisas inteligentes.

Como Chairman da Hedge Fund Standards Board, deu uma entrevista à BBC.
No Hard Talk, o estrondosamente inteligente Borges tentou explicar a
Stephen Sackur os seus inteligentes pontos de vista sobre ética e a
utilidade para a economia das suas funções. Perante olhos mais
ignorantes, a prestação foi desastrosa e esclarecedora. Como acontece
por vezes aos intelectualmente mais dotados, dava a ideia de estarmos
perante um pateta que deixava clara a obscuridade imoral do seu
ofício.

Incompreendido lá fora, porque o avassaladoramente inteligente Borges
vive à frente do seu tempo, regressou ao cantinho que o viu nascer.
Passos Coelho contratou-o para tratar das privatizações. Que não têm,
como se está a ver na TAP, corrido muito bem. É o problema de lidar
com investidores externos não menos ignorantes que os empresários
domésticos.

Desde que chegou, o tragicamente inteligente Borges tem dado
inteligentes opiniões. Que os salários dos portugueses têm de baixar e
que quem acha que os portugueses não têm de apertar o cinto está um
bocadinho a dormir. Palavras do deprimentemente inteligente Borges,
que saca, todos os meses, 25 mil euros aos contribuintes. Que a RTP
devia ser concessionada, ficando as despesas para o Estado e o lucro
para quem agarrar a mesada, propôs o pateticamente inteligente Borges.
Que as despesas com os funcionários públicos correspondiam a 80% dos
custos do Estado, um número assim um bocadinho para o exagerado, mas
natural em alguém que, absorto no seu próprio brilho intelectual, não
perde tempo com minudências. De cada vez que o incontinentemente
inteligente Borges abre a boca cria um drama no governo. Diria
Tchekhov: "que sorte possuir uma grande inteligência, nunca lhe faltam
asneiras para dizer".

Nunca duvidei, como por estas linhas fica claro, da incomparável
genialidade do inteligente Borges. O problema são os políticos, os
empresários, os trabalhadores, os portugueses, o FMI, os mercados, os
jornalistas, a BBC, Portugal e o Mundo. Neste País, António Borges
foi, em tempos, vendido como um homem de autoridade técnica
incomparável. Exposto o produto na montra pública dos media,
percebe-se finalmente o seu valor. Aquilo é areia demais para a nossa
camioneta. Areia que nos sai cara.


Daniel Oliveira - Expresso, 01/10/2012