OCINÓRI - A Tasquinha do Irónico

sexta-feira, março 09, 2012

DEZ ANOS DEZ - ESTÓRIA DE UMA TOURADA

Em 2003 um sistema sem cara, sem pele, sem voz, uma vida artificial resultante da conjugação de zeros e uns decidiu que eu deveria entregar um tributo ao estado português. De acordo com a lei deveria pagar cerca de mil contos. Decisão, de zeros e uns, cega, vinda da letra de uma lei fria e ardilosa - cai na armadilha.


Recorri aos mais titulares dos cargos mais elevados que enviaram resposta via subalternos: "muito nos honra informar que a sua pretensão carece de fundamento legal".


O contencioso com o estado representa um crescimento da exigência. Não pagar significaria que seria catalogado, enviado para uma lista negra e mais e mais penalizado ainda. Paguei. Gigante desconsolo.


Tentei esquecer - com os anos esbateu-se; mas não se esquece. Á beira do terminus da possibilidade temporal de recurso judicial, ganhei novo fôlego. 


Muni-me de causídico e fomos à disputa. Expliquei tudo direitinho à sra juiza. Nervosinho, renasceu a indignação, o sentimento de injustiça e a certeza de ser um meco: alvo de notificações, citações e intimações do sistema: o culpados de todos os males e bens. O sistema. Expliquei que o fisco deu instruções e que actuei de acordo com as mesmas - não obstante essas instruções contradizerem o dito pela lei num momento - preciosismo que custou mil contos - ao meco.


O fisco disse-me que eu estava errado. O subalterno do secretário de estado também. O subalterno do director de serviços também. A associação dos tecnicos de contas também. Excepto o sentimento de desconsolo expresso pelos ultimos, todos tiveram a grande honra de serem incumbidos de me mandarem à merda.


Expliquei à sra juiza que tinha feito tudo by the book mas que pelos vistos havia 2 books. Expliquei a economia factual e a sra juiza quis saber tudo certinho. O fisco não pôs lá os pés. Não sei quem é a pessoa: o representante da fazenda publica. Deve ser um Senhor.


A sra juiza deu-me razão.


Mas o Senhor recorreu: alegou que teria sido mal citado. Faz hoje uma semana que o Supremo Tribunal Administrativo se deu ao incómodo de vir dizer que eu tenho mesmo razão. 


Resta-me agora implorar que a sentença seja cumprida. Quero o guito, os juros, as custas e ainda deveriam premiar o meu amigo causídico. E deviam pagar-me as noites que não dormi e as interferências que esta tristeza causou. A culpa é do tal sistema. Que quando não funciona, o computador também não.


Afinal sempre há mais vidas. Trocava esta por outra.