OCINÓRI - A Tasquinha do Irónico

sexta-feira, maio 12, 2006

AS NOVAS TÉCNOLOGIAS


Reparei que na minha caixa de correio só recebo contas, publicidade, contas e mais contas! Cartas dos amigos, aquele envelope onde aparece a nossa morada e de quem nos enviou, aquele aroma amarfanhado, maltratado e com um selo... isso deixou de existir! Só recebo cartas que começam por V.Exa (não era preciso ofender um gajo!), sempre com um prazo (a nível do espaço temporal) como se de uma sentença de morte se tratasse! Onde está a caligrafia? Onde está a palavra rasurada? Onde está um pouco de humanismo?
A carta, o envelope foram substituídos pela @, pelo usuário e a sua senha de identificação... o primeiro morto já se tornou cadáver! Rei Morto, Rei Posto e Viva ao Rei!
Cada vez que mando um e-mail, recordo-me perfeitamente das feições a quem o mando, mas a minha lista de endereços parece mais uma daquelas obras fabulosas de Hollywood com 20.000 figurantes! Como é bonito vermos o nosso e-mail (link, página ou porra alguma) a dizer-nos “A Sua Mensagem Foi Enviada Com Sucesso” e num sinal de aprovação agradecemos a um monitor (podia ser a um carteiro... mas não, é a um monitor)!
Já não consigo passar sem ele... já não consigo passar sem um CPU, um teclado, um monitor, um rato e uma floresta de fios, que até o palácio de Versalhes se torna demasiado pequeno!
Reparem que todos os dias me prostituo intelectualmente por um punhado de cobres (pô... até dá vontade de chorar cada vez que olho para o meu recibo) e ainda por cima, com a ajuda dessa máquina... sempre a dar palpites!
A nossa linguagem ou maneira de falar já começou a mudar. São as palavras estrangeiras, a invenção de novos verbos e a falta de imaginação para a tradução dos termos técnicos.
Será que as nossas conversas vão passar pela compra de 2 Gigas de carne alentejana, a vacina panda para gripe, o tamanho não importa mas convém que tenha mais de 20Kbytes, aquele sofria dos olhos e deram-lhe uma placa gráfica e o puto que se preparava para os exames da universidade e a mãe deu-lhe umas ampolas com RAM! Ufa!
E o MSN? Esse milagre da nova tecnologia! Gostamos de ter uma fotografia pomposa, tirada do nosso casamento, onde a nossa sogra nos dá um enorme beijo de felicidade mas com um “facalhão” pronto a ser espetado nas nossas costas! E as conversas? Esse paradigma... tem algo de sensual, de proximidade e de intelectualidade! Lindo! Lindo!
- Olha donde teclas (isto é algum verbo que aparece no dicionário?)...
- Como te chamas? O teu nick (alcunha em português e muitos gajos neste planeta) já eu sei! Quero é saber o teu nome verdadeiro?
- Manda-me uma foto tua! (entretanto do outro lado da linha alguém responde telepaticamente)
– O que tu queres sei eu...
Pessoas que praticam este horrendo monólogo com um monitor... é obvio que chegam aos 35 anos e acham que o manicómio é um lugar acolhedor!
É esta a paixão pelo desconhecido para conhecer que o tempo nos urge lá fora? Deve ser...
E blogs? Já falei de blogs? Desses milhões caixotes de lixo que andam pela Internet espalhados... Blogs? Argh.... Esses postites (aqueles papeis amarelos com cola, que ora cola, ora descola, que utilizamos para embelezar o monitor) da Internet... Aí meu deus, o que eu criei!
Peço desculpa, não posso continuar a escrever assim. Por cada visitante recebo 1 cêntimo (livre de impostos) e isso ajuda-me um bocado a não ter que olhar de frente para o preço da Gasolina!
Sobre tudo o que escrevi... o que há-de vir mais?
(Texto de RTente (Tentini) - Maio de 2006)

2 Comments:

  • rapaz!! não seja por isso!!!:) envia-me a tua morada (de casa claro e por e-mail já agora) que eu coloco uma carta no correio só para ti!! depois pagas-me uma cerveja para compensar o selo;). Bom fim de semana!!

    By Anonymous Anónimo, at 11:55 da tarde, maio 12, 2006  

  • “Ah, eu tenho necessidade de olhar nos olhos do outro para o sentir”
    Quantas vezes no dia a dia se consegue olhar olhos nos olhos alguém – que não esteja na posição horizontal e não nos ache o melhor espécime da raça?
    Hoje em dia foge se do olhar directo como o diabo da cruz. Cada vez mais se colocam mascaras que escondem quem somos e mostram aquilo que os outros querem que sejamos. E não me venham com conversas que “não, eu não! Eu não tenho mascaras, sou transparente como vidro!”. Mentira! Dentro da parva necessidade de nos afirmarmos indivíduos copiamos constantemente “outros” que sabem cumprir melhor essa tarefa do que nós. Apoiamo nos na música, nos filmes, nas revistas, nas imagens escondidas do sub consciente que andamos a acumular desde que nascemos. É impossível olhar alguém de frente quando sabemos que assim as mascaras caem.
    E pior, se entregarmos aquilo que somos, mostramos que somos diferentes e, ficamos vulneráveis à rejeição! Sim, porque ser diferente leva a que os outros aprendam a lidar connosco, e isso é outra coisa de que se foge como o diabo da cruz – o “desconhecido”!
    Sem dúvida hoje em dia é cada vez mais "longe da vista, próximo do coração". Porque, quando a vista alcança o interior e a máscara cai, o coração foge.
    Ah, e não se iludam aqueles que acreditam que o “sexo” não tem nada a ver com isto! O “amor” sentimento só fez alguma vez sentido quando os namoros eram à janela, e mesmo assim, a base que o sustentava era puramente hormonal! Podes ser a pessoa com mais valores morais que a Sta Teresa, mas não proporciones um bom orgasmo não e ficas condenado à penitência de Job!
    Claro que vendo as coisas assim, a net justifica se plenamente!
    Usamos as máscaras que queremos e até as tiramos, pois o outro nunca vai perceber se falamos verdade. E se fugir, estão mais 50.000 em fila para iludirmos também.
    Mas, acima de tudo isto, está aquilo que se chama evolução (?). Evoluímos. Do andar a saltar de arvore em arvore, evoluímos para um andar a saltar de estrela em estrela, dos sinais de fumo – que só permitiam comunicação em dias que não houvesse nevoeiro, dos rolinhos entregues em mão por um mensageiro – quando não morria pelo caminho, das cartas com selo entregue por um carteiro – quando não foram parar à cidade vizinha, evoluímos para uma coisa que se chama e-mail, e daqui esperemos um dia evoluir para as ditas conversas telepaticas, com todas as ferramentas e opções que agora o e-mail oferece mas aperfeiçoadas. Depois, de certeza alguém vai dizer, “ah, era tão bom escrever naqueles teclados arcaicos…”

    Espero com isto ter respondido a outras perguntas
    Cumpts, Lanka

    By Anonymous Anónimo, at 8:41 da tarde, maio 13, 2006  

Enviar um comentário

<< Home