FAZIA 100 ANOS... MAS AFINAL FAZ 5!
Era sapateiro e vivia num bairro como poucos deste país. A sua oficina era tão cheia de improviso e de desorganização como o talento dele para o calçado.
Não havia novidade… os pés podiam ter joanetes, serem chatos, grandes, pequenos ou perfeitos mas se passavam pelas mãos dele… era como uma luva assenta-se em qualquer pé! Era o melhor…
Tinha as mãos duras, ásperas… a vida não foi meiga!
E aquele caixote de lixo, negro como a noite, de ter ardido tanto papel… debaixo da banca… As marcas estavam bem visíveis na perna!
E as formas? Estendidas aleatoriamente pelo chão aguardando a sua vez para entrar em acção.
E a cadeira ao canto para servir qualquer cliente ou amigo para uma conversa informal.
A banca escura do serviço, a maçaneta da porta improvisada para alguém a conseguir abrir e a nota de 20$00 com o Gago Coutinho colada na parede.
Era rude… Não media o tamanho das palavras! Nunca o disse a ninguém mas qualquer pessoa sabia bem…. Antes quebrar do que vergar!
Era difícil arrancar um elogio mas quando o dava era sincero mas a sua preocupação por aqueles que gostava era imensa. Sempre teve um carinho absoluto por dois netos… E percebo bem o porquê!
O que mais impressionava era a sua vontade de viver. Á medida que a idade pesava os sonhos e a vontade aumentavam. Chegar aos 100 anos era um sonho idílico… mais a sua vontade de fazer uma prateleira para a sua biblioteca, mais uma planta no quintal, ler mais um livro para partilhar o que aprendeu… Tinha uma visão da vida completamente diferente de qualquer pessoa deste país.
E aquele estrondoso sucesso no bairro por ter conseguido plantar uma bananeira e com carinho e cuidado… esta lá lhe retribuiu com os seus frutos! Suprema glória de um sonho!
E os ananases? Naquela improvisada estufa junto à janela… Também lhe retribuiu!
A leitura era uma das mais verdadeiras paixões… uma biblioteca que ia desde a economia, a geografia, astronomia… tanta coisa e tantas coisas de luxo para uma alma só! Culto!
Era a cultura em pessoa! Lia com uma lentidão desconcertante mas assimilava cada palavra para que fosse usada como arma ou escudo na defesa dos seus ideais.
Tinha uma retórica verdadeiramente devoras e intimidativa… Batia, defendia, rebatia, argumentava, provocava e provava que cada ideia sua era viável e razoável. Impressionante!
Muito poucos faziam-lhe frente com as palavras (até aqueles que tinham mais do que um simples canudo) … mas a sua vontade de partilhar o que aprendia era ainda mais contagiante!
Enorme fã de futebol… bem jogado claro! Tinha uma enorme paixão pela pureza do futebol inglês, dos dribles dos jogadores do escrete e da simplicidade dos clubes da sua cidade.
A sua simplicidade na vontade de um breve jogo de damas… era um delírio!
O lugar à mesa era sempre mesmo, acompanhado por talheres pesados e uma boa dose de “combustível” para ter as forças necessárias para laborar horas seguidas… e ao lado uma cadeira vermelha de bebé que tanto o fazia rejubilar de alegria.
As malhas que se vai cosendo no presente aparecem no futuro e por sua culpa, teve de aprender aos 80 anos a cozinhar, a coser, a passar, a lavar… Era impressionante a sua vontade de aprender!
E os olhos? Essa enorme dádiva que teve! Nunca precisou de óculos… e senão fosse a tremura das mãos lá continuaria a pôr a linha na agulha!
Os ouvidos é que não o acompanharam mas o tempo da telefonia já tinha passado e o jogo de imagens da televisão levavam-no a voar pelas asas da sua imaginação!
O lema era sempre o mesmo… era preciso trabalhar e depois descansar um pouco para depois voltar a produzir e nos intervalos… sonhar!
É tão difícil encontrar alguém com esta enorme força!
Era um mestre como sapateiro e como… Avô!
Era o meu Avô!
Hoje fazia 100 anos… mas afinal faz 5!
Não havia novidade… os pés podiam ter joanetes, serem chatos, grandes, pequenos ou perfeitos mas se passavam pelas mãos dele… era como uma luva assenta-se em qualquer pé! Era o melhor…
Tinha as mãos duras, ásperas… a vida não foi meiga!
E aquele caixote de lixo, negro como a noite, de ter ardido tanto papel… debaixo da banca… As marcas estavam bem visíveis na perna!
E as formas? Estendidas aleatoriamente pelo chão aguardando a sua vez para entrar em acção.
E a cadeira ao canto para servir qualquer cliente ou amigo para uma conversa informal.
A banca escura do serviço, a maçaneta da porta improvisada para alguém a conseguir abrir e a nota de 20$00 com o Gago Coutinho colada na parede.
Era rude… Não media o tamanho das palavras! Nunca o disse a ninguém mas qualquer pessoa sabia bem…. Antes quebrar do que vergar!
Era difícil arrancar um elogio mas quando o dava era sincero mas a sua preocupação por aqueles que gostava era imensa. Sempre teve um carinho absoluto por dois netos… E percebo bem o porquê!
O que mais impressionava era a sua vontade de viver. Á medida que a idade pesava os sonhos e a vontade aumentavam. Chegar aos 100 anos era um sonho idílico… mais a sua vontade de fazer uma prateleira para a sua biblioteca, mais uma planta no quintal, ler mais um livro para partilhar o que aprendeu… Tinha uma visão da vida completamente diferente de qualquer pessoa deste país.
E aquele estrondoso sucesso no bairro por ter conseguido plantar uma bananeira e com carinho e cuidado… esta lá lhe retribuiu com os seus frutos! Suprema glória de um sonho!
E os ananases? Naquela improvisada estufa junto à janela… Também lhe retribuiu!
A leitura era uma das mais verdadeiras paixões… uma biblioteca que ia desde a economia, a geografia, astronomia… tanta coisa e tantas coisas de luxo para uma alma só! Culto!
Era a cultura em pessoa! Lia com uma lentidão desconcertante mas assimilava cada palavra para que fosse usada como arma ou escudo na defesa dos seus ideais.
Tinha uma retórica verdadeiramente devoras e intimidativa… Batia, defendia, rebatia, argumentava, provocava e provava que cada ideia sua era viável e razoável. Impressionante!
Muito poucos faziam-lhe frente com as palavras (até aqueles que tinham mais do que um simples canudo) … mas a sua vontade de partilhar o que aprendia era ainda mais contagiante!
Enorme fã de futebol… bem jogado claro! Tinha uma enorme paixão pela pureza do futebol inglês, dos dribles dos jogadores do escrete e da simplicidade dos clubes da sua cidade.
A sua simplicidade na vontade de um breve jogo de damas… era um delírio!
O lugar à mesa era sempre mesmo, acompanhado por talheres pesados e uma boa dose de “combustível” para ter as forças necessárias para laborar horas seguidas… e ao lado uma cadeira vermelha de bebé que tanto o fazia rejubilar de alegria.
As malhas que se vai cosendo no presente aparecem no futuro e por sua culpa, teve de aprender aos 80 anos a cozinhar, a coser, a passar, a lavar… Era impressionante a sua vontade de aprender!
E os olhos? Essa enorme dádiva que teve! Nunca precisou de óculos… e senão fosse a tremura das mãos lá continuaria a pôr a linha na agulha!
Os ouvidos é que não o acompanharam mas o tempo da telefonia já tinha passado e o jogo de imagens da televisão levavam-no a voar pelas asas da sua imaginação!
O lema era sempre o mesmo… era preciso trabalhar e depois descansar um pouco para depois voltar a produzir e nos intervalos… sonhar!
É tão difícil encontrar alguém com esta enorme força!
Era um mestre como sapateiro e como… Avô!
Era o meu Avô!
Hoje fazia 100 anos… mas afinal faz 5!
6 Comments:
Gostei das palavras sentidas...
Essa pessoa deveria ter-te sido bastante especial, boa homenagem!
Gostei, fez-me pensar nos meus avós também!
Gostei...
By Anónimo, at 5:08 da tarde, novembro 23, 2006
E quando o coração fala, a pena obedece, escrevendo prosas como esta.
Um grande RAUF para ti!
By Anónimo, at 4:01 da tarde, novembro 24, 2006
Obrigado a todos... um sentido agradecimento!
By Tentini, at 12:41 da tarde, novembro 27, 2006
Pela segunda e última vez este ano, fui desafiado para uma cena qualquer. Quis partilhar a minha imensa alegria contigo e como tal decidi passar-te o testemunho. Vai agora, e espalha a palavra do Rafeiro pela blogosfera!
PS: este texto não é só para ti. Vou fazer o belo do COPY-PASTE para os outros desafiados ou não me deitava hoje...
Um grande RAUF para ti!
By Anónimo, at 10:14 da tarde, novembro 27, 2006
Não me esqueço da admiração que senti ao entrar naquela verdadeira selva; do obscuro da oficina; da bananeira; do insólito ananás (QUE COISA ESTRANHA JUNTO À JANELA!!!!). E as minhas belas botas verdes da tropa, lembras-te? Ficaram como novas. Mas duras que nem os cornos do demo! Os meus ricos pés também não se esquecem.
E aquelas mãos. Curvas estranhas, autenticamente esculpidas.
Caraças do ananás!
By Gustavo, at 7:37 da tarde, novembro 28, 2006
Valeu mano...
Valeu!
By Tentini, at 12:36 da tarde, novembro 29, 2006
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