OCINÓRI - A Tasquinha do Irónico

segunda-feira, abril 03, 2006

SER FUNCIONÁRIO PÚBLICO OU PÚBICO?


Ser "funcionário publico" (Sim sou funcionário público!)... sou uma vitima de racismo!... noto o preconceito dos utentes quando os atendo!...
Sinto-me uma espécie de ucraniano, africano, ou chinês da sociedade portuguesa... discriminado pela sociedade que não dá valor ao que faço, só porque pensam que não sou o funcionário que melhor nota teve na avaliação curricular, na entrevista... ninguém dá valor ao funcionário que só está ali a cumprir a Lei, o Despacho, o Decreto, A Norma... (devo aliás dizer que eram três pretendentes ao lugar que ocupo e dois foram excluídos por falta de habilitações... um tinha a 4ª classe e o outro nem o caminho para a escola sabia...), ora então estou aqui, não por mérito próprio... mas por “desmérito” de dois candidatos que agora são utentes... e que devem andar a fazer campanha contra mim... Senão vejamos...
Quando qualquer um de vocês que está a ler este texto vai à Câmara Municipal do vosso concelho para saber do seu processo de obras, ou pagar a água, ou por outro motivo qualquer a primeira coisa que pensa é ... "- quem será o padrinho deste incompetente?" ... "-‘Tá aqui porque é filho de fulano tal!"... ”- deve ter andado com bandeiras na campanha!”...
Um dia, um utente dirigiu-se a mim num dia de atendimento e perguntou-me: “- Tenho umas dúvidas acerca de uma casa que estou a construir... blá blá blá... Se posso fazer isto... se posso fazer aquilo... Onde é que posso falar com os fiscais?” eu expliquei-lhe os “porquês e os porque nãos”, se podia, ou não podia... blá blá blá ... e disse-lhe que os fiscais tinham ido ver uma obra mas que podia esperar junto ao gabinete... o Sr. Agradeceu e foi então esperar os ficais...
Passado uma hora ao passar junto ao gabinete da fiscalização verifiquei que o homem ainda lá estava à espera... e ele ao ver-me perguntou: “- eles demoram?”... eu disse-lhe que eles de certeza que junto à hora de almoço que vinham ao gabinete para depois irem almoçar... a resposta do “meco” não pode ser a melhor: “- Isso é se não almoçarem à pala de ninguém!”...
Saltou-me a tampa! “- Ó meu amigo! Você foi bem ou mal atendido por mim?” e ele “- Fui bem!”... e eu “- Então e pagaste-me alguma coisa para te atender? ‘Tás a falar dos meus colegas!”....
Mas isto não é de espantar... basta ir ao meu Hi5 e ver os comentários do meu amigo “sacana” Tiago Cação (esse pseudo melhor jogador das sextas à noite) a uma já famosa foto minha.... “deves ter ido jantar com algum empreiteiro!”...
Ora um homem vai-se abaixo, caraças!... felizmente já tenho acompanhamento psicológico graças a uma “cunha” que meti a um gajo que trabalha na psiquiatria que deixei casar com a minha tia em troca de marcações de consultas psiquiátricas, mediante pagamento da taxa moderadora e inscrição na lista interminável de espera...
Uma vez um velho amigo já falecido... detentor de alguns cargos de extrema relevância nas nossas ex – colónias, cujo filho detêm um alto cargo do estado em Bruxelas... dono de um dos mais belos solares da Bairrada ... o Sr. Eng. Sampaio Nunes disse-me: “- Ó rapaz... vivemos num país de estúpidos!... Eu à uns anos atrás dava uma caneta a um amigo e isso significava amizade.... hoje dou-lhe uma caneta e você passa a ser corrupto... só porque sou um homem com algumas influências e tu me estás a atender por detrás de um balcão!”.... Ao que eu prontamente respondi: “- Ó Sr. Eng.º! Então se assim é, que se lixe a caneta! Venha daí esse Jaguar ou Mercedes!” ... ora se sou corrupto por uma caneta... mais vale sê-lo por mais qualquer coisa...
Felizmente vou para casa todos os dias consciente que faço apenas o meu trabalho... em troca de um mísero ordenado que a autarquia me paga... tenho mais prazer em atender uns do que outros... mas atendo-os a todos de igual modo. Mas triste por saber que na mente do cidadão comum as palavras “Funcionário Publico” significam afilhado, cunha, incompetente, corrupto...
(Texto de João Paulo (J.P.) - Abril de 2006)

4 Comments:

  • Sabemos que neste triste e cinzento Portugal, pelos erros de uns pagam os outros! A incoerência, a arrogância, a falta de zelo e principalmente a falta de dignidade das altas esferas estatais obrigam cada vez mais a que a revolta do Zé Povinho seja feita feita, não só, naquele que "está mais à mão" como também naquele que tem dignidade para dar a cara! Acredito que um dia o povo há-de sair outra vez à rua, pode demorar mas há-de sair... E nesse dia meus senhores podeis rezar as vossas preces num pelourinho qualquer!

    By Blogger Tentini, at 10:23 da manhã, abril 04, 2006  

  • Embora a minha experiência profissional estatal seja nula, conheço bastante bem a realidade da escravatura do funcionalismo público no nosso país, convivo com essa realidade à quase 25 anos, o que me leva a deixar aqui apenas este breve comentário: o exemplo tem de vir de cima, é bem verdade, tal como é tambem verdade que esse dito exemplo anda pela rua da amargura, mas não é mesmo verdade que os fúncionários públicos não são crianças, têm capacidades cognitivas bastante evoluidas, logo, a capacidade de poder decidir entre o fazer bem, fazer mal ou, simplesmenta, não fazer. Ora, sendo assim, existe uma parte que opta pelo fazer mal e outra pelo não fazer, o que deixa os que optam pelo fazer bem numa situação embaraçosa e complicada. Por culpa de uns pagam todos, os que fazem bem e os utentes\clientas!!!

    By Anonymous Anónimo, at 12:04 da tarde, abril 05, 2006  

  • Que crómica mais oportuna. Realmente, quando se fala exaustivamente em qualificação e competência na função pública, parece que a montanha pariu um rato. A verdade é que ninguém quer funcionários competentes, nem qualificados, nem poliglotas, nem simpáticos, nem produtivos. Era o fim do mundo se assim fosse. Então depois as cunhas? E as ordens desordenadas seriam contestadas. E o zé povinho iria protestar e descarregar as suas frustrações sobre quem? Sobre os políticos, sobre os dirigentes?
    Pois é, meus amigos, mesmo que o articulado seja um pouco corrosivo, ele espelha bem a que se passa neste país de escovas e analfabetos. Se alguém quiser singrar na função pública (central, regional e local) dê a entender que não sabe nada e que não quer saber de nada. Esteja sempre presente em acontecimentos públicos e elogie constantemente o chefe. Quando estiver no topo e não precisar de mais nenhum empurrão, diga ao chefe supremo que sabe mais do que ele. O que acontece? É imediatamente encostado, o seu nome á esquecido pelo nomeklatura e começa a levar de facto uma vida de rei. Até ao dia que ele faça anos... Depois, logo se vê. E ainda dizem que não há concidências. Ou serão reincidências?
    Carlos Morais dixit...

    By Anonymous Anónimo, at 6:11 da tarde, abril 05, 2006  

  • Amigo, de certeza que só com uma grande "cunha" é que conseguirias escrever para este magnifico Blog.
    Continua a almoçar com os empreiteiros...

    By Anonymous Anónimo, at 11:45 da manhã, abril 20, 2006  

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